Portugal em Transformação: Ascensão da Extrema-Direita e Crise da Esquerda Após Eleições

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Esquerda em crise e Chega projeta hegemonia em Portugal após eleições

As eleições em Portugal, realizadas no domingo (18), resultaram em um novo mapa político. A Aliança Democrática (AD), de centro-direita e liderada por Luís Montenegro, conquistou 89 cadeiras, mas não obteve a maioria absoluta. A grande surpresa foi o Chega, de extrema direita, que superou o Partido Socialista (PS) e se tornou a segunda maior bancada, com 58 deputados, número que pode aumentar com os votos da emigração.

A esquerda portuguesa enfrentou um revés histórico. Pedro Nuno Santos renunciou à liderança do PS após perder quase um terço da bancada, empatando tecnicamente com André Ventura, líder do Chega. O Bloco de Esquerda e a CDU também encolheram, enquanto o Livre se destacou como símbolo da resistência progressista em um cenário político que se inclina rapidamente para a direita.

Ventura celebra a mudança no sistema político

André Ventura expressou sua euforia ao declarar o “fim do sistema de alternância” que perdurou desde 1974. O Chega venceu em distritos tradicionalmente de esquerda, como Beja e Setúbal, e se prepara para disputar as eleições autárquicas e presidenciais de 2026. Ventura reivindicou o título de segunda força política e afirmou que “nada ficará como antes em Portugal”, criticando as sondagens e a esquerda histórica.

Pedro Nuno Santos se despede

O líder do PS reconheceu a derrota e anunciou que não se candidatará nas próximas eleições internas. Em um discurso emocionado, afirmou que o partido “não deve ser suporte do governo de Montenegro”, citando a falta de idoneidade do primeiro-ministro reeleito e o crescimento da extrema-direita como razões para uma oposição firme. Nos bastidores, José Luís Carneiro, cabeça de lista em Braga, surge como um possível sucessor, sinalizando um PS mais moderado.

Montenegro busca estabilidade sem maioria

Sem maioria, Luís Montenegro pediu “sentido de Estado” aos demais partidos e reiterou que não fará acordos com o Chega. Ele reconhece que terá dificuldades para manter a estabilidade, já que nem com a Iniciativa Liberal (IL), que elegeu 9 deputados, alcança os 116 votos necessários para aprovar leis estruturais. O espectro de novas eleições paira sobre o cenário político.

Abstenção e descontentamento eleitoral

A abstenção foi alta, mas a menor dos últimos 30 anos (35,6%). O eleitorado castigou os partidos que forçaram a queda do governo anterior. O PS, que insistiu em moções contra Montenegro, saiu arrasado, enquanto o BE foi reduzido a um único assento e a CDU elegeu três deputados. O Livre, por sua vez, subiu para seis, consolidando-se como uma voz crítica à radicalização da direita.

O voto jovem e popular, atraído pelo discurso emocional de Ventura, e o descontentamento com a “geringonça” e o legado de António Costa impulsionaram o Chega a novos patamares.

Desafios para 2026 e a nova dinâmica política

A nova composição da Assembleia cria um impasse: Montenegro não governa com estabilidade, o Chega busca consolidar sua oposição e o PS está em transição. As articulações iniciadas agora moldarão o cenário para as eleições presidenciais de 2026.

Embora a direita seja dominante, está dividida, enquanto a esquerda se encontra fragmentada e humilhada, necessitando de reconstrução. Ventura, ávido por protagonismo, quer ocupar o centro do palco, e a AD precisará negociar com o Parlamento e a sociedade.

Uma democracia em transformação

A vitória da AD e a ascensão do Chega marcam o fim de um ciclo político em Portugal. A crise da esquerda é simbólica e não apenas aritmética, alterando o eixo do Parlamento. O futuro político é incerto, e cabe à sociedade civil, à imprensa e às instituições democráticas evitar que a polarização destrua as pontes construídas desde a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974.

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