Uma operação deflagrada nesta quinta-feira (9) revelou um suposto esquema milionário de corrupção envolvendo prefeituras do Paraná e Santa Catarina. A investigação, conduzida pelo Gaeco e pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), durou cerca de seis meses e resultou na prisão de cinco pessoas e no cumprimento de seis mandados de busca e apreensão. O desvio estimado ultrapassa R$ 30 milhões.
Entre os presos estão o prefeito Marco Antonio Marcondes Silva, o secretário da Fazenda e ex-secretário da Saúde Francisco Roberto Barbosa, o ex-chefe de gabinete Abrilino Fernandes Gomes, o auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) Alberto Martins de Faria e Samuel Antonio da Silva Nunes, sócio da empresa investigada AGP Saúde.
Durante as ações, os agentes apreenderam mais de R$ 200 mil em dinheiro vivo, além de documentos, computadores e celulares. As quantias foram encontradas nas casas de Barbosa, Gomes e Faria. Na residência do prefeito, nenhum valor foi localizado.
Segundo o MP, Alberto Martins de Faria seria o mentor do esquema. Servidor do TCE-PR e ex-professor da Escola de Gestão Pública, ele teria usado três empresas de fachada para movimentar e lavar recursos desviados de contratos públicos. Faria, que pediu afastamento sem remuneração do cargo em janeiro, tinha salário de R$ 29 mil até o fim do ano passado.
O esquema teria começado em Santa Catarina e depois se espalhado para o Paraná, com início na prefeitura de Contenda e posterior expansão para outros municípios, entre eles Fazenda Rio Grande.
De acordo com o MP, a empresa AGP Saúde era contratada sem licitação para realizar testagens domiciliares de saúde preventiva, mas cobrava valores acima do mercado e executava serviços de forma irregular, muitas vezes sem solicitação médica. Em alguns casos, os exames eram realizados em pontos de ônibus e outros locais públicos, criando uma falsa sensação de investimento em saúde.
Os contratos da Secretaria de Saúde de Fazenda Rio Grande com a AGP somam mais de R$ 5,7 milhões, todos com o mesmo objeto e sem licitação. O MP estima que R$ 10 milhões tenham sido desviados apenas nesse município. Há indícios de fraudes semelhantes em pelo menos sete outras cidades, elevando o prejuízo total para mais de R$ 30 milhões.
O dinheiro público, segundo as investigações, seguia da prefeitura para a AGP Saúde e era depois repassado a empresas ligadas a Faria, que lavavam os valores por meio da compra de carros de luxo e criptomoedas.
Os cinco presos foram levados para a Cadeia Pública de Curitiba e devem passar por audiência de custódia nesta sexta-feira (10). O Ministério Público pretende apresentar denúncia criminal ainda em outubro, além de ações cíveis por improbidade administrativa.
Batizada de Operação Fake Care, a ação contou com apoio do Tribunal de Justiça do Paraná e buscou desarticular o grupo que, segundo o MP, usava contratos de saúde pública como fachada para desviar milhões de reais.