Trump promete usar força total contra Maduro e envia navios de guerra para a Venezuela

Trump e Maduro
Foto: Federico PARRA, KAMIL KRZACZYNSKI/AFP

A administração do presidente Donald Trump anunciou nesta semana um aumento significativo da pressão militar sobre a Venezuela, com o deslocamento de navios de guerra ao sul do Caribe e a promessa de “usar toda a força” contra o governo de Nicolás Maduro. A justificativa oficial é o combate ao tráfico internacional de drogas e a contenção de cartéis apontados por Washington como ameaças à segurança regional. A retórica remete a acusações antigas contra Maduro, formalmente denunciado por narcoterrorismo em 2020, durante o primeiro mandato de Trump, quando os Estados Unidos ofereceram recompensa milionária por informações que levassem à sua captura.

O movimento atual envolve destróieres equipados com o sistema Aegis e um contingente militar de mais de quatro mil homens, em uma operação planejada para durar cerca de 36 horas. Segundo informações oficiais, a manobra foi enquadrada como resposta a atividades de organizações ligadas ao narcotráfico. Esse enquadramento reforça a visão do governo americano de que a Venezuela abriga e facilita operações criminosas transnacionais que ameaçam a segurança hemisférica. Em paralelo, o governo venezuelano reagiu com retórica firme: classificou as declarações de Washington como ameaças que colocam em risco a paz e a estabilidade da América Latina e reiterou sua disposição de defender espaço aéreo, mar e território diante de qualquer tentativa de incursão.

O cenário atual ilustra uma escalada entre dois vetores distintos. De um lado, a estratégia de Washington combina pressão diplomática, sanções econômicas, recompensas milionárias e movimentação de ativos militares para sinalizar determinação. De outro, Caracas adota procedimentos internos de controle e propaganda política. Essas medidas, além do impacto prático, cumprem também uma função simbólica: afirmar soberania e mobilizar apoio interno diante da ameaça externa, projetando Maduro como defensor da integridade territorial.

O conflito, no entanto, não se resume a um impasse bilateral. A Venezuela mantém laços estreitos com atores internacionais estratégicos, como Rússia, China e Irã. Esse alinhamento complica eventuais cenários de confronto direto, já que insere o tema no tabuleiro da geopolítica global. A presença de potências com interesses econômicos, energéticos e diplomáticos na região cria um ambiente de alto risco: uma ação militar isolada pode gerar reações políticas em cadeia e abrir espaço para disputas indiretas de influência. Para países vizinhos como Colômbia e Brasil, a prioridade imediata tende a ser a preservação da estabilidade regional e a mitigação de riscos humanitários decorrentes de eventual escalada.Do ponto de vista legal e político, a questão suscita debates complexos. Operações militares em águas internacionais próximas a um Estado soberano são interpretadas de forma ambígua. Embora tecnicamente não configurem invasão, levantam dúvidas sobre proporcionalidade, mandatos e respeito às normas do direito internacional. A narrativa americana de combate ao tráfico fornece uma justificativa operacional, mas não elimina a necessidade de diálogo multilateral e de consultas a organismos regionais, para reduzir riscos de uma escalada do conflito na região.

Um conflito em larga escala pode minar toda a paz na região, uma vez que a Venezuela mantém um alinhamento político claro com Estados antagônicos aos EUA, além de buscar alternativas econômicas para reduzir sua dependência do dólar. Nos últimos anos, Caracas tem intensificado o uso de moedas como o yuan chinês, o rublo russo e até o dirham dos Emirados Árabes em transações comerciais estratégicas. Essa substituição parcial do dólar reflete tanto a necessidade de driblar sanções impostas por Washington quanto o esforço para diversificar sua base financeira. Paralelamente, as relações com China, Rússia e Irã se fortaleceram não apenas no comércio de petróleo, mas também em investimentos em infraestrutura, fornecimento de armamentos e cooperação tecnológica. Esse movimento consolida a Venezuela dentro de um eixo alternativo ao Ocidente, ampliando sua resiliência econômica e política, mas também acirrando o antagonismo com os Estados Unidos e seus aliados regionais.

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