A abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira, considerada um dos objetivos mais antigos do agronegócio nacional, deve iniciar pelos estados do Sul do Brasil: Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Esses estados foram os primeiros a obter o status de área livre de febre aftosa sem vacinação, condição que o país alcançou integralmente em maio deste ano, e que é requisito essencial para a exportação ao Japão.
O mercado japonês é reconhecido mundialmente por sua rigorosa fiscalização sanitária, o que torna o processo de habilitação extremamente complexo. Segundo autoridades brasileiras ouvidas, a negociação da carne bovina com Tóquio se arrasta há mais de 20 anos e envolve aproximadamente 12 etapas. A estratégia adotada pelo governo federal é obter primeiramente a habilitação para os estados do Sul e, posteriormente, estender a certificação a todo o território nacional, já que agora o Brasil possui o status de país livre de aftosa sem vacinação em todas as unidades federativas.
Em março, avanços significativos ocorreram quando o Brasil destravou a fase de auditoria, autorizando que o Japão realizasse inspeções nos estados do Sul. Este é considerado o passo mais crítico do processo, uma vez que a aprovação estadual é requisito para a inclusão nacional. Autoridades japonesas devem divulgar em breve o relatório de aprovação, permitindo que os embarques sejam iniciados sem atrasos que poderiam ocorrer caso se pedisse a habilitação de todo o país de imediato.
Uma comitiva do governo federal, liderada pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Luis Rua, desembarcou no Japão em 11 de agosto para acompanhar de perto os trâmites regulatórios. O objetivo é acelerar a abertura do mercado para carne bovina brasileira e garantir que todas as exigências sanitárias sejam atendidas conforme os padrões japoneses. O Japão importa mais de 700 mil toneladas de carne bovina por ano e representa uma oportunidade estratégica para diversificar destinos de exportação, sobretudo após as restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos no chamado “tarifaço”.
O avanço das negociações recebeu impulso adicional após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Tóquio, em março, e as expectativas do governo são de que a habilitação parcial possa ser concretizada ainda em 2025. O Japão é o terceiro maior importador global de carne bovina, com cerca de 80% do volume atualmente proveniente dos Estados Unidos e da Austrália, o que reforça a importância estratégica da conquista para o agronegócio brasileiro.
Além da carne bovina, a pauta das autoridades brasileiras inclui a ampliação do acesso japonês a carne suína e produtos de origem vegetal, reforçando o esforço do país em consolidar uma presença mais ampla no mercado asiático. A concretização do acesso japonês à carne bovina brasileira representa, acima de tudo, a realização de um objetivo histórico do setor agropecuário nacional, refletindo décadas de negociações e investimentos em padrões sanitários e qualidade do produto.