R$ 22 milhões em fraude: empresário do Paraná exibia luxo e cavalos

Foto: Reprodução/ Rede Sociais
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Polícia Civil do Paraná emite mandado de prisão e investiga golpe milionário que deixou produtores à deriva

A Polícia Civil do Paraná emitiu mandado de prisão preventiva contra o empresário Celso Fruet, proprietário da Cerealista Fruet, em Campo Bonito, no oeste do estado. Considerado foragido pelas autoridades, Fruet é investigado por um esquema que, segundo boletins e apurações iniciais, já deixou prejuízos oficiais da ordem de R$ 22 milhões — e que pode atingir valores bem superiores à medida que novas ocorrências são registradas.

Até o momento, 109 produtores rurais formalizaram boletins de ocorrência. A polícia, contudo, estima que o total de vítimas supere 200 agricultores, com perdas que podem ultrapassar R$ 50 milhões. O caso veio à tona em 21 de julho, quando produtores que foram negociar safras de soja e milho encontraram os silos e os escritórios da cerealista vazios, sem grãos, sem computadores e sem o proprietário.

Segundo a delegada Raiza Bedim, da Polícia Civil de Guaraniaçu, Fruet atraía clientes oferecendo preços acima da média de mercado. “Se no balcão organizado o preço da saca era R$ 100, ele pagava R$ 104 ou R$ 105”, explicou. A polícia tentou intimá-lo para depoimento em duas ocasiões, sem sucesso. Com o avanço das investigações e a ausência do empresário, foi expedido o mandado de prisão e equipes seguem em diligência para localizá-lo.

A investigação aponta que o modus operandi não seria exclusivo deste episódio. Fruet já teria sido alvo de inquéritos por estelionato em Capanema e Virmond, no Paraná, com relatos semelhantes: recebimento de grãos e posterior fechamento repentino da cerealista, deixando produtores sem acesso às safras entregues.

O caso também expõe o impacto humano. Marilete Pagani afirma ter 320 sacas de soja, avaliadas em cerca de R$ 38 mil, armazenadas na cerealista. Recursos que seriam destinados ao tratamento do pai, acamado com Alzheimer e Parkinson. “Ficamos em desespero, a gente contava com aquilo ali, a gente confiava… De repente você não tem nada”, disse ela, descrevendo a angústia dos produtores.

No dia 24 de julho, mais de 200 produtores participaram de reunião com representantes da Fruet. Segundo os presentes, a dupla limitou-se a dizer que “estava tentando resolver a situação”, sem apresentar cronograma ou propostas concretas para quitar as dívidas. Funcionários relataram que, quando os silos foram encontrados vazios, foi comunicada a venda da estrutura ao grupo Copacol por cerca de R$ 40 milhões; a cooperativa, no entanto, afirma que a aquisição se restringiu a imóvel e equipamentos.

Em nota, a Copacol esclareceu que a compra observou a legislação e que não assumiu as obrigações financeiras da cerealista referentes às dívidas com os produtores. A transação, segundo a cooperativa, envolveu apenas a unidade operacional localizada na PR-474, em Campo Bonito.

A defesa de Fruet, representada pelo advogado Higor Fagundes, disse ter solicitado acesso ao procedimento que tramita sob sigilo e afirmou que o empresário sempre se colocou à disposição para prestar depoimento. Alega, porém, inviabilidade de agendar a oitiva em prazos curtos por compromissos profissionais. A defesa tem apontado ainda uma “grave crise financeira” na empresa, atribuída a oscilações do setor, altas taxas de financiamento e concentração de pedidos de fixação de preços de soja.

A Polícia Civil ressalta que a investigação não pode aguardar a disponibilidade do investigado. A delegada Bedim afirmou que, diante da ausência e da gravidade das suspeitas, a prisão preventiva foi necessária. Autoridades pedem que outras possíveis vítimas procurem a delegacia para formalizar queixa e colaborar com o levantamento dos prejuízos.

Além da investigação criminal, apuram-se documentos, contratos e notas fiscais para verificar o fluxo de recebimentos e pagamentos. Especialistas consultados pela apuração ressaltam que a confiança pessoal, aliada a práticas comerciais facilitadoras, como recebimento de cargas em horários não convencionais, pode aumentar a vulnerabilidade de produtores em negociações com empresas locais.

A investigação também nota uma discrepância entre a imagem pública de Fruet e as alegações: nas redes sociais, o empresário costumava mostrar carros de luxo, cavalos de raça, fazendas e uma frota de carretas, elementos que intensificaram a revolta dos lesados ao serem confrontados com a perda das safras.

Equipes da Polícia Civil continuam as diligências para localizar o empresário e aprofundar as apurações. O caso deve motivar, além de desdobramentos criminais, ações cíveis para ressarcimento. Promotores e advogados preveem que, se comprovadas as irregularidades, haverá pedidos de bloqueio de bens, afastamento de administradores e ações coletivas para reparação, além disso, o Ministério Público poderá instaurar investigação paralela. Produtores são orientados a guardar notas, contratos e mensagens para instruir as investigações e fortalecer eventuais processos judiciais. As diligências prosseguem sem previsão de conclusão.

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