Varig: ascensão, crise e o fim da grande companhia aérea brasileira

Foto: Arquivo Flap

Durante décadas, a Varig foi sinônimo de excelência, inovação e orgulho nacional no setor da aviação. Fundada em 1927 em Porto Alegre (RS) pelo empresário alemão Otto Ernst Meyer, a companhia começou com voos regionais operados por um hidroavião Dornier Do J, ligando a capital gaúcha a Rio Grande. Com o tempo, expandiu-se para outras regiões do país e, a partir de 1942, passou a realizar voos internacionais, iniciando com a rota Porto Alegre–Montevidéu.

O crescimento acelerado ocorreu especialmente entre as décadas de 1950 e 1980, período em que a empresa incorporou companhias concorrentes, como a Real Aerovias e a Cruzeiro do Sul, ampliando significativamente sua malha aérea e frota. A chegada de aviões modernos como os Boeing 707 e 747 ajudou a projetar a imagem da Varig como uma companhia de padrão internacional, comparada a nomes como Pan Am, Air France e Lufthansa. Comissárias poliglotas, serviço de bordo de alto padrão e cardápios refinados reforçavam esse prestígio.

Além de ser a maior companhia aérea da América Latina, a Varig ficou marcada como a transportadora oficial da seleção brasileira de futebol entre 1966 e 2006. Momentos icônicos foram protagonizados em suas aeronaves, como o atacante Romário segurando a bandeira do Brasil na janela da cabine após a conquista do tetracampeonato, em 1994, e o técnico Felipão repetindo o gesto em 2002, após o penta.

No entanto, a partir dos anos 1990, a empresa começou a enfrentar turbulências. A abertura do mercado aéreo promovida pelo governo Collor quebrou o monopólio da Varig nas rotas internacionais, abrindo espaço para a concorrência de empresas como Vasp, Transbrasil e, posteriormente, a TAM, que se destacou com passagens mais acessíveis e uma abordagem mais agressiva no mercado. No início dos anos 2000, a chegada da GOL, com um modelo de baixo custo, aumentou ainda mais a pressão sobre a Varig.

Enquanto a concorrência modernizava suas operações e adotava estratégias mais competitivas, a Varig mantinha práticas antiquadas, perdendo espaço mesmo com o aumento da demanda por voos. A situação financeira se agravou, com dívidas acumuladas desde os anos 1980 tornando-se insustentáveis. Em 2003, a companhia já não conseguia pagar o leasing de suas aeronaves, e muitas delas foram confiscadas.

Em junho de 2005, a Varig entrou com pedido de recuperação judicial. A empresa foi então dividida em duas: a “nova Varig”, sem dívidas e responsável pela operação, e a “velha Varig”, que ficou com um passivo estimado em R$ 8 bilhões. No ano seguinte, a nova Varig foi adquirida pela Volo do Brasil, que suspendeu quase todos os voos, manteve apenas a ponte aérea Rio-São Paulo e demitiu 5.500 funcionários. Em 2007, a operação foi repassada à GOL, por US$ 320 milhões (equivalente a R$ 1,7 bilhão na cotação atual).

A “velha Varig” tentou continuar existindo por meio da Flex Linhas Aéreas, mas a iniciativa durou pouco. Em 20 de agosto de 2010, foi oficialmente decretada a falência da Varig, encerrando um ciclo histórico da aviação brasileira. Cerca de 12 mil ex-funcionários ficaram desempregados, muitos sem receber seus direitos trabalhistas até hoje.

A queda da Varig simboliza não apenas o fim de uma empresa, mas a transformação do setor aéreo no Brasil, marcado por novos modelos de negócio, concorrência internacional e uma mudança definitiva na forma como os brasileiros voam.

Tópicos: