Donald Trump surpreendeu o mundo ao reassumir um papel central nas negociações de paz entre Ucrânia e Rússia. Em um telefonema de mais de duas horas com Vladimir Putin, o ex-presidente americano expressou sua crença de que “os dois lados iniciarão negociações imediatas por um cessar-fogo”. O Kremlin, por sua vez, foi mais cauteloso, mencionando um “possível memorando de entendimento no futuro”.
Putin declarou que a Rússia está disposta a trabalhar com a Ucrânia em um memorando sobre um potencial tratado de paz, que incluiria princípios de acordo e um possível cessar-fogo, caso sejam alcançados acordos relevantes. No entanto, fontes em Washington e Moscou indicam que, apesar do diálogo franco, não houve avanços concretos. Putin insiste que não haverá cessar-fogo sem “concessões estruturais” de Kiev, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exige a retirada das tropas russas antes de qualquer negociação.
A Paz como Moeda de Trocas Comerciais
Em sua plataforma Truth Social, Trump afirmou que a Rússia deseja “COMÉRCIO em larga escala com os EUA” após o fim do “banho de sangue”. Essa declaração reflete sua estratégia de articular com aliados europeus e o Vaticano a criação de um novo marco diplomático que inclua planos de reconstrução e abertura comercial. A abordagem visa desmobilizar a aliança entre Ucrânia e União Europeia, oferecendo alternativas bilaterais e posicionando Trump como um “pacificador solitário”, fora das estruturas tradicionais como a ONU e a OTAN.
JD Vance: Embaixador Informal no Vaticano
Nesse contexto, o vice-presidente JD Vance emergiu como uma figura-chave. Durante uma visita ao Papa Leão XIV, ele entregou uma carta assinada por Trump e Melania, convidando o pontífice para uma visita à Casa Branca. O gesto busca reconstruir relações com a Igreja Católica após anos de tensão. Vance também se reuniu com Zelensky e o senador Marco Rubio em um encontro reservado, onde a Santa Sé demonstrou cautela, mas interesse na proposta americana de sediar as negociações de paz.
Putin e as Condições para a Paz
Putin, por sua vez, evita qualquer sinal de fraqueza. Em Sochi, ele reiterou que um acordo de paz deve abordar as “causas profundas” da crise, referindo-se à influência ocidental sobre a Ucrânia. A estratégia do Kremlin parece ser empurrar as negociações enquanto avança militarmente. Apesar das recentes trocas de prisioneiros e reuniões diretas entre representantes russos e ucranianos em Istambul, não há um prazo definido para novas negociações formais.
O Dilema Católico: Neutralidade ou Mediação?
A chegada do Papa Leão XIV gerou expectativas sobre um novo papel da Igreja como mediadora global. Embora tenha um perfil mais diplomático que seu antecessor, Francisco, o novo pontífice ainda não se posicionou claramente sobre sua participação nas negociações. Vance ofereceu presentes simbólicos ao papa, como um exemplar da “Cidade de Deus”, de Santo Agostinho, e uma camisa personalizada do Chicago Bears, buscando sinalizar respeito e convergência cultural.
Trump e o Jogo Geopolítico
Ao contatar Putin diretamente e acenar para o Vaticano, Trump tenta se estabelecer como fiador de um novo equilíbrio global. Sua estratégia envolve desconstruir as vias tradicionais da diplomacia multilateral, substituindo-as por acordos diretos baseados em alianças ideológicas e interesses econômicos.
Embora a paz na Ucrânia ainda pareça distante, os movimentos de Trump introduzem novas variáveis no cenário: um vice influente, um papa disposto a dialogar e um Putin que sabe jogar o jogo da paciência geopolítica. A situação continua a evoluir, mas a busca por um acordo de paz permanece repleta de desafios.